Em estratégia de comunicação coordenada, partido do governo e Planalto produzem vídeo para reposicionar narrativa sobre fraudes no INSS, com foco na gestão passada.
Diante da repercussão negativa gerada por vídeos de bolsonaristas nas redes sociais, que associam as recentes fraudes no INSS ao atual governo, o PT e setores do Palácio do Planalto decidiram contra-atacar com uma peça audiovisual própria. A ideia é reposicionar a narrativa e responsabilizar diretamente a gestão anterior, do ex-presidente Jair Bolsonaro, pelo desmonte de controles e fragilização dos sistemas de fiscalização no órgão.
O vídeo, divulgado nesta semana em perfis ligados ao partido e a integrantes do governo, acusa a administração passada de enfraquecer auditorias internas, cortar investimentos em tecnologia de monitoramento e permitir a criação de brechas que, agora, estariam sendo exploradas por fraudadores.
Do ponto de vista da gestão pública, o embate revela como a comunicação política se tornou central na administração federal. Não se trata apenas de informar ou esclarecer, mas de disputar espaço na opinião pública e preservar a imagem institucional de ministérios e autarquias. Nesse caso, a integridade da Previdência Social — um dos maiores sistemas do mundo — está no centro da disputa.
A reação do PT ocorre em um momento de crescente pressão sobre o ministro da Previdência, Carlos Lupi, que vem sendo cobrado a apresentar resultados concretos no combate às fraudes. Internamente, auxiliares de Lula avaliam que o escândalo, embora grave, pode ser revertido com narrativa clara, dados técnicos e responsabilização de gestões anteriores por falhas estruturais acumuladas.
Segundo o vídeo divulgado, entre 2019 e 2022, houve queda significativa no número de auditores previdenciários e técnicos especializados no INSS. A peça também menciona medidas de flexibilização de análises, implementadas durante a pandemia, que teriam aberto caminho para fraudes sistemáticas nos benefícios assistenciais e aposentadorias.
Bolsonaristas, por sua vez, alegam que a atual administração teve tempo suficiente para corrigir falhas herdadas e apontam omissão do governo Lula em auditar as concessões feitas nos primeiros meses de 2023. Nas redes, influenciadores ligados à oposição ironizam a tentativa de “terceirização da culpa”, afirmando que o governo atual deveria apresentar soluções, não apenas buscar culpados.
Para gestores públicos e especialistas em administração governamental, o episódio é exemplo claro de como falhas históricas de governança, quando não enfrentadas com celeridade e planejamento, acabam sendo exploradas politicamente. A responsabilização precisa ser acompanhada de medidas concretas, como revisão de sistemas, auditorias independentes e investimento em inteligência antifraude.
Dentro do Planalto, a avaliação é que o foco agora deve estar em duas frentes: reforçar a comunicação institucional para estancar a erosão de confiança e acelerar a reestruturação dos mecanismos internos do INSS. A Casa Civil já teria solicitado relatórios técnicos para subsidiar um novo pacote de medidas, previsto para as próximas semanas.
Lula, que nos bastidores demonstrou irritação com a repercussão do caso, exigiu que a equipe econômica e os ministérios envolvidos trabalhem de forma articulada para conter o desgaste. O presidente também reforçou a necessidade de transparência, mas sem permitir que a gestão atual seja colocada como única responsável por um problema histórico.
A tentativa do PT de “colar” a origem do escândalo no governo anterior é uma jogada de gestão política e de crise. Em tempos de alta polarização e influência digital, a administração pública precisa estar preparada não apenas para gerir processos, mas também para gerir percepções — algo que, neste caso, se tornou uma batalha estratégica de narrativas.