Empresários questionam taxas altas, dependência digital e falta de transparência em parcerias com plataformas; setor busca alternativas para manter autonomia e rentabilidade.
O avanço dos aplicativos de entrega revolucionou o setor de alimentação fora do lar no Brasil. No entanto, após anos de dependência crescente, muitos donos de restaurantes começaram a reagir. O motivo: taxas elevadas, perda de controle sobre o relacionamento com o cliente e regras contratuais vistas como desiguais.
Empresários do ramo afirmam que os custos operacionais com plataformas como iFood, Rappi e Uber Eats têm comprometido a margem de lucro dos estabelecimentos. Em alguns casos, as comissões cobradas superam os 25% do valor do pedido. Com inflação nos insumos e queda na renda dos consumidores, o modelo virou insustentável.
Além das taxas, há críticas ao monopólio do mercado. A concentração em poucas plataformas limita o poder de negociação dos restaurantes, que acabam aceitando condições impostas sob pena de perder visibilidade e acesso ao público digital. Para pequenos e médios negócios, a dependência chega a ser total.
Essa realidade tem levado gestores do setor a buscar alternativas. Alguns passaram a investir em sistemas próprios de delivery, com atendimento via site, WhatsApp ou aplicativos próprios. Outros apostam em coletivos de restaurantes, que dividem custos logísticos e de marketing, ganhando escala sem perder autonomia.
Para Felipe Gonzaga, gestor de uma rede com 12 unidades em São Paulo, a solução está na diversificação de canais. “Não dá para ficar refém de um único aplicativo. Estamos investindo em tecnologia própria e fortalecendo a entrega direta ao cliente, com atendimento personalizado”, afirma.
O movimento de resistência tem apoio de entidades do setor, como a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), que defende a regulação das relações entre plataformas e estabelecimentos. Entre os pontos defendidos estão limites para as comissões e maior transparência nos algoritmos que definem a exibição dos restaurantes nos aplicativos.
Do ponto de vista da gestão, a dependência das plataformas também compromete o acesso aos dados dos clientes, que são considerados estratégicos. Informações como frequência de pedidos, preferências e histórico de consumo ficam restritas aos apps, dificultando ações de fidelização e marketing direto.
Outro desafio é o controle da experiência de entrega. Quando a logística é terceirizada pelas plataformas, problemas como atrasos, embalagens danificadas ou pedidos errados afetam a imagem do restaurante, mesmo que ele não tenha responsabilidade direta sobre o ocorrido.
A busca por soluções passa, também, pela eficiência operacional. Restaurantes que adotam sistemas integrados de gestão têm conseguido reduzir custos, otimizar rotinas e oferecer promoções segmentadas sem depender dos intermediários. A tecnologia virou aliada para retomar parte do controle perdido.
Apesar das dificuldades, o delivery segue como uma fonte importante de receita. Levantamento da consultoria Galunion indica que o canal representa, em média, 35% do faturamento de bares e restaurantes nas grandes cidades. Isso reforça a necessidade de uma estratégia equilibrada entre presença nos apps e canais próprios.
No Congresso, já há discussões sobre projetos que tratam da regulação do setor. A pauta inclui propostas para limitar as taxas cobradas pelas plataformas e garantir condições mais justas para os pequenos negócios. Enquanto isso, o mercado se adapta por conta própria, buscando mais autonomia.
A reação dos restaurantes ao monopólio do delivery não é apenas uma questão de sobrevivência financeira. Trata-se de uma mudança de postura na gestão, em que independência, inovação e foco no cliente voltam ao centro da estratégia. O cardápio da nova fase inclui menos dependência e mais controle sobre o próprio negócio.