O elevado custo do medicamento mais caro do Brasil levanta debates sobre gestão de recursos e a inclusão de terapias de ponta no SUS
A gestão de recursos no setor público de saúde tem enfrentado desafios sem precedentes com a introdução de terapias inovadoras e de custo extremamente elevado, como o medicamento de terapia gênica utilizado no tratamento da distrofia muscular de Duchenne (DMD). A DMD é uma condição rara e grave que afeta principalmente meninos, levando à perda progressiva de força muscular e, sem tratamento, à morte precoce. Com um preço que pode alcançar até R$ 20 milhões por paciente no Brasil, o medicamento se destaca como o remédio mais caro do país, mas a sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS) é um dilema complexo para a gestão pública.
A introdução de tratamentos inovadores, como a terapia gênica, que visa corrigir o defeito genético responsável pela DMD, traz consigo um grande potencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Contudo, o alto custo do tratamento levanta questões críticas sobre a sustentabilidade do SUS e a capacidade de o sistema público de saúde absorver terapias de ponta sem comprometer a oferta de outros serviços essenciais para a população.
O medicamento de terapia gênica para DMD é considerado uma das únicas alternativas de tratamento eficazes para essa doença rara, o que o torna essencial para as crianças diagnosticadas com a condição. No entanto, sua exclusividade e o alto custo geram um impasse em termos de acesso, com muitas famílias enfrentando uma dura realidade: a impossibilidade de arcar com o custo do medicamento e a ausência da terapia no SUS. A situação se agrava quando se observa que, apesar de ser um tratamento com um impacto potencialmente positivo na vida de muitas crianças, ele ainda não está disponível para a maioria dos pacientes.
Do ponto de vista da gestão pública, a inclusão de medicamentos tão caros no SUS envolve desafios financeiros profundos. O orçamento da saúde pública no Brasil já enfrenta limitações, e a alocação de recursos para a compra de medicamentos inovadores exige uma avaliação estratégica, que leve em consideração não apenas o custo imediato, mas também os benefícios a longo prazo para os pacientes e a sociedade. Em muitos casos, os gestores precisam ponderar entre os custos de tratamentos de alta complexidade e a manutenção de um sistema de saúde que atenda a uma população com diversas necessidades, desde atendimentos básicos até tratamentos emergenciais.
A questão financeira, no entanto, não se limita ao preço de aquisição do medicamento. A gestão pública também deve considerar os custos adicionais relacionados à infraestrutura necessária para a aplicação do tratamento, o acompanhamento contínuo dos pacientes e a formação de equipes especializadas. Esses custos, aliados à alta demanda por outros serviços de saúde, tornam a equação ainda mais difícil de resolver.
Uma das alternativas que tem sido discutida no meio da gestão pública é a criação de modelos de financiamento mais flexíveis, como a negociação de preços com os fabricantes, a busca por parcerias público-privadas ou até mesmo a implementação de um sistema de cotas que permita o acesso a terapias de ponta de maneira mais equitativa. Algumas propostas incluem a análise da viabilidade de uma “medicina personalizada”, onde os tratamentos mais eficazes e menos onerosos possam ser distribuídos com mais eficiência, sem abrir mão da qualidade.
Outro aspecto importante a ser considerado na gestão desse tipo de tratamento é o impacto que ele pode ter em termos de longo prazo. Embora o custo inicial seja exorbitante, a terapia gênica pode gerar benefícios significativos para a saúde pública, como a redução de internações hospitalares frequentes e a melhoria na qualidade de vida dos pacientes, o que poderia reduzir custos futuros com outras intervenções médicas. Esse tipo de abordagem é crucial para que gestores públicos consigam argumentar sobre a viabilidade de integrar tratamentos de alto custo no SUS, levando em conta não apenas o custo imediato, mas também os ganhos de longo prazo para o sistema como um todo.
Além disso, a gestão eficiente do SUS passa pela priorização de recursos, levando em conta as diferentes realidades regionais do Brasil. Enquanto as grandes capitais podem ter maior acesso a tecnologias de ponta, em muitas regiões do interior a realidade é outra, com escassez de médicos, infraestrutura precária e uma demanda crescente por tratamentos básicos. O equilíbrio entre atender às necessidades urgentes da população e investir em terapias de alto custo exige uma abordagem estratégica que considere a distribuição equitativa dos recursos.
Esse dilema sobre a inclusão de terapias caras no SUS é apenas a ponta do iceberg de um debate mais amplo sobre a sustentabilidade do sistema de saúde no Brasil. A implementação de novas políticas públicas, que permitam a incorporação de medicamentos inovadores de forma justa e acessível, é uma necessidade crescente para garantir que todos os cidadãos, independentemente da sua condição financeira, tenham direito a tratamentos eficazes e de qualidade.