Consultoria destaca impacto dos juros elevados e prevê aumento expressivo de empresas em dificuldade.
O impacto da taxa Selic sobre a saúde financeira das empresas brasileiras deve se intensificar nos próximos anos, resultando em um aumento de 12% nos pedidos de recuperação judicial até 2027. A projeção, feita por uma consultoria especializada, indica que o efeito dos juros elevados sobre o endividamento corporativo tem um “delay” de aproximadamente dois anos, ou seja, os reflexos mais intensos da política monetária atual ainda estão por vir.
O estudo aponta que empresas de diversos setores, especialmente aquelas altamente alavancadas, já enfrentam dificuldades para renegociar dívidas e manter o fluxo de caixa equilibrado. O cenário econômico incerto, aliado ao custo do crédito mais alto, pode agravar a situação, elevando o número de companhias que recorrerão à recuperação judicial como alternativa para evitar a falência.
Selic e o impacto nos negócios
A taxa Selic, que chegou a 13,75% ao ano em 2023 antes de iniciar um ciclo de queda, ainda exerce forte influência sobre o mercado de crédito. O financiamento mais caro afeta diretamente empresas que dependem de capital de terceiros para operar e expandir suas atividades. Segundo os especialistas, o custo elevado do dinheiro já prejudicou a rentabilidade de diversos setores, mas os efeitos mais críticos devem ser sentidos nos próximos anos.
“Existe um intervalo de tempo entre a elevação dos juros e o impacto real sobre o caixa das empresas. Muitas conseguiram se segurar com reservas ou renegociações pontuais, mas o acúmulo da dívida em condições desfavoráveis torna inevitável um aumento nos pedidos de recuperação judicial”, afirma um dos responsáveis pelo estudo.
Setores mais vulneráveis
O levantamento indica que segmentos como varejo, construção civil e indústria de transformação estão entre os mais afetados. O varejo, por exemplo, enfrenta uma queda na demanda devido ao encarecimento do crédito para consumidores, enquanto a construção civil lida com dificuldades de financiamento para novos projetos. Já a indústria de transformação sente os impactos da desaceleração econômica e da redução dos investimentos.
Empresas de médio porte, que costumam ter menos acesso a linhas de crédito vantajosas e reservas financeiras limitadas, também estão no grupo de maior risco. Muitas delas enfrentam dificuldades para honrar compromissos com fornecedores, bancos e até mesmo funcionários, tornando a recuperação judicial uma alternativa cada vez mais considerada.
O que esperar para os próximos anos?
A expectativa do mercado é que, com a redução gradual da Selic, o custo do crédito diminua e alivie parte da pressão sobre as empresas. No entanto, especialistas alertam que os efeitos dessa queda podem demorar a se materializar, especialmente para negócios que já acumulam dívidas elevadas.
Enquanto isso, escritórios de advocacia e consultorias especializadas em reestruturação empresarial já se preparam para um aumento na demanda por processos de recuperação judicial. A tendência é que nos próximos anos haja uma movimentação intensa no setor, com negociações entre credores e empresas em dificuldades se tornando mais frequentes.
A evolução desse cenário dependerá não apenas da política monetária, mas também da capacidade das empresas de se adaptarem a um ambiente econômico desafiador. Estratégias como diversificação de receita, renegociação antecipada de dívidas e controle rigoroso de custos podem ser essenciais para evitar o caminho da recuperação judicial.